ROGER C. SCHANK
Psychologist & Computer Scientist; Engines for Education Inc.; Author, Making Minds Less Well Educated than Our Own
O Fim do Conhecimento como Mercadoria
Há quinze anos fui convidado para pertencer ao “board” de editores da Encyclopedia Britannica. Percebi instantaneamente que estes editores se consideravam como OS guardiões do conhecimento.
Eles sabiam o que era verdade e importante e só o conhecimento que satisfizesse esse critério estaria na sua enciclopédia.
Perguntei se a enciclopédia podia ser dez vezes maior, assuntos económicos à parte, e eles disseram “Não”, a informação correcta já estava lá. Comecei por explicar que o mundo que eles conheciam iria mudar em frente aos seus olhos e que iriam em breve ser cilindrados, mas não compreenderam.
Tive conversas similares com directores de jornais, editores e reitores de universidades top. Como o pessoal da Britannica, vêem-se como conhecedores do que é verdade e do que não é e do que é importante e do que não é.
Estou optimista de que tudo isto em breve mudará.
O que eu quero dizer com “isto” é que vivemos até hoje — desde a invenção do livro e incluindo a era em que o conhecimento estava contido em papiros — numa era em que o conhecimento é uma mercadoria que pertence e é guardada por uma elite que exerce várias formas de controlo: livros, jornais, televisão e escolas.
Controlam quem consegue ter acesso ao conhecimento (como por exemplo a admissão a escolas de elite) e exactamente que conhecimento tem importância.
Começamos a ver a transformação nisto tudo agora. Se qualquer pessoa pode fazer cursos on-line em Harvard, então porque é que temos que ir para Harvard? As universidades de elite têm lutado contra este novo mundo, mas eventualmente as pessoas irão fazer o curso que quiserem, com quem quiserem e haverá uma real competição pela qualidade.
Já não temos só três redes de televisão, há mais pontos de vista disponíveis. O custo de funcionamento de uma estação de televisão ainda é muito elevado e existe a ideia que a televisão emite o dia inteiro mesmo que não tenha nada para dizer. Em breve isto também desaparecerá. O You Tube é o princípio.
Hoje, os meios de comunicação impressos estão a ser ameaçados pelo material on-line, mas ainda é prestigioso publicar um livro e os jornais ainda existem. Mais importante, as escolas ainda existem. Tudo vai desaparecer em breve. Não é preciso comprar conhecimento quando este está disponível gratuitamente, como os jornais estão a aprender. Quando toda a gente tem um blog e um website, a questão é saber qual é a informação fiável e como a encontrar. Ninguém pagará um cêntimo. O conhecimento deixará de ser uma mercadoria.
Acho que isto é uma coisa muito boa. Acredito que aqueles que são donos ou dispensadores de conhecimento obrigaram pelo menos uma geração (ou talvez mais) de pensadores a acreditar que todas as ideias importantes são conhecidas e que é triste que as não conheçam. As religiões operaram sempre com este princípio: saber há muito tempo o que está nos documentos sagrados. As escolas actuaram similarmente. Em breve ninguém poderá reclamar que sabe o que é verdade porque cada um criará debates para si próprio. O Google ajudou que isto acontecesse, mas ainda não viram nada.
Podemos querer pagar pelo conhecimento que alguém detém e que achamos que é muito valioso para nos ajudar a fazer alguma coisa que queiramos fazer, mas esse tipo de conhecimento será adquirido “just in time”, e para todos haverá centenas de milhares de escolhas.
Mais importante, o tamanho da informação mudará. Hoje o tamanho que é um livro ou um artigo ou uma conferência, em breve será um bit de som (ou um parágrafo). Sim — esses terríveis bites de som que os detentores do conhecimento gostam de se queixar. O conhecimento hiper-condensado em muito pequeno vencerá. As pessoas tinham conversas, bites de som seguidos de bites de som dirigidos para um objectivo comum que era manter uma conversa. Isto será em breve possível on-line. Começará uma conversa com (em versão electrónica) quem queira oferecer este serviço. Vamos poder obter informação do tamanho acumulado em milhares de anos num tamanho que podemos processar e responder. A informação vai encontrar-nos e vamos responder o que pensamos. O conhecimento será quase todo livre e os donos do conhecimento terão que encontrar outra ocupação. O conhecimento deixará de ser uma mercadoria controlada.
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